domingo, 24 de abril de 2011

Do Blog da Alcinéa Cavalcante

Páscoa, em nós e sempre


Por: Randolfe Rodrigues*

A semana que termina nos impõe a necessidade de meditar sobre o sentido da existência.   É por isso que tem um valor universal que ultrapassa os limites da religiosidade cristã.    É o sentido da renascença, da ressurreição.

É assim que diz o meu querido amigo Chico Alencar, que aqui faço questão de reproduzir: ?Santa não é uma semana ou alguns dias, marcos da inventada cronologia. Sagrada é toda a existência, sempre: tudo o quepulsa, tudo o que vibra, tudo o que chora e canta, tudo o que viceja e floresce, tudo o que é húmus/humano, tudo o que é Terra. Cosmos Terra, parte da natureza, hoje tão ameaçada como nós, suas partículas. Somos solidão, desencanto, angústia e morte, e somos também possibilidade de ressurreição.  Como indivíduos, como grupos, inclusive políticos, como civilização?.

Um humano quando gasta seu capital energético, envelhece e morre.   Nos próximos dez bilhões de anos o sol terá exaurido seu estoque de hidrogênio e em seguida de hélio, morrerá como estrela brilhante. Lentamente será transformada em um buraco negro.   Morrerá carregando consigo muito antes, todo o sistema solar e a nossa Terra.    O universo é movido por estas leis, ditas entrópicas. Tudo um dia vai desaparecer.

O cristianismo nos oferece uma importante contribuição para a caminhada humana no planeta.  A dialética vida-morte-ressurreição é presente em todos os momentos da nossa trajetória.   À materialidade humana tem uma saudável dimensão sagrada, somos seres em constante formação, em processo continuado de humanização, somos feitos de acertos, erros, ensaios, vitórias, derrotas.   A vida tem valor e nós só temos valor diante da vida!   Ou seja, a Vida é sopro de beleza.   É o maior patrimônio que se recebe.   Ela é necessariamente produção conjunta, social.   Nós somos o resultado da relação com outras tantas pessoas.
A morte é a negação da vida.   O maior pecado do mundo atual é a produção em série de egoísmos.   Os tempos globais de neoliberalismo move-se pelo individualismo e pela concorrência.    A solidariedade não tem vez.    Não seria este um dos sintomas do esgotamento do atual sistema social?     Seria uma crise conjuntural ou seria estrutural que prepara o desenlace final.

A palavra crise tem a dupla perspectiva de morte e vida.    Crise vem de kir ou krl, que significa limpar e purificar.   Daí deriva a palavra crisol, elemento químico purificador do ouro e outros metais, ou acrisolar, que quer dizer purificar e depurar.   Todo processo de purificação implica morte e renascimento.   Tudo que passa pela crise permanece e tem essências que fundam um novo futuro.

A páscoa, em qualquer das religiões monoteístas, busca o mesmo significado: a morte não tem a palavra final.   Ela é uma das fases do ciclo dialético, que nos afirma que tudo no mundo muda, nada mais sugestivo para nós e para o Amapá, hoje.

Por isso tenho fé e crença, na crise, na ressurreição, na Páscoa, na passagem da morte para a vida, na utopia que insiste em ser teimosa, no sentido revolucionário que tem o Amor.   Nas possibilidades transcendentais da humanidade de construir um mundo novo.


* Randolfe Rodrigues é senador, historiador, Bbacharel em Direito e mestre em Políticas Públicas pela UECE.

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