O que escrevo aqui, talvez não conseguisse expressar em palavras, muito menos, dizê-las, olhando fixamente em seus olhos, minha querida amiga e agora ex-colega de trabalho, Ana Claudia, a propósito da minha característica timidez. No geral é a conclusão apressada que muitos amigos e colegas fazem a meu respeito. Concordo parcialmente a timidez para os parâmetros atuais, pode significar perda de espaço na sociedade ou a dificuldades para ser incluído nesta, algo como que prejudicial à convivência social.
Particularmente reconheço a identificação de uma característica tímida, mas eu diria que sou, digamos, um tímido-sociável, pois minha timidez nunca se concretizou em maiores dificuldades que me impossibilitasse uma comunicação compreensiva. Porém, sempre procurei optar, predominantemente, pela observação em detrimento da verbalização, logo, a opção por dirigir-me a você, Ana Claudia, de maneira textual. Neste sentido é bom que se diga que às vezes, os gestos comportamentais, expressões artísticas e textuais (como neste caso) falam mais por si só.
Seja por isso, que os recursos com os quais tenho operado, no entanto, tenham se distanciado daqueles que muitas vezes, equivocadamente, não consideram os vários pontos de vistas possíveis. Só para exemplificar: na escola Everaldo Vasconcelos, onde trabalho atualmente, isto me transferia um peso enorme quando me via solicitado nas conversas informais a opinar sobre questões que não consideravam os tais pontos de vistas possíveis, dentre muitos aspectos vou me referir aqui, especificamente, a significação do comportamento dos alunos no ambiente escolar, quando estes eram “culpabilizados” em sua predominância, a aspectos relacionados com a manutenção da ordem disciplinar na escola. Não vou entrar em pormenores, mas apenas indica que minha experiência como docente das séries iniciais e agora como aluno veterano de graduação, me habilita a sustentar a afirmação que exemplifiquei acima.
No entanto, não quero aqui, falar sobre timidez e nem mencionar aspectos relacionados a positividade e/ou negatividade no ambiente escolar. Aliás, minha formação se dirige, dentre outros focos ao combate de aspectos valorativos, preconcebidos, etnocêntricos. Minha intenção, no presente texto é destacar apenas a importância da construção da amizade que desenvolvi com muitas pessoas na escola Everaldo Vasconcelos, mas que dedico nesta oportunidade à amizade construída com a diretora Ana Claudia, a propósito do seu desligamento recente da direção da escola.
Quero mencionar aqui a construção não de uma simples amizade, mas de uma amizade que considerei (e considero) bastante especial e que me possibilitou galgar maturidade tanto na vida profissional (mesmo que gradualmente no espaço que destinava as minhas atividades profissionais frente à Secretaria da escola Everaldo Vasconcelos), quanto nas minhas reflexões relacionadas a aspectos da minha vida particular.
Neste sentido, Ana Claudia representou (e representa) uma amizade singular, daquelas como devem ser as verdadeiras amizades. Mas para falar de Ana Claudia quero evocar, rapidamente, o contexto do meu primeiro contato com ela na escola.
Minha chegada para ocupar o cargo como Secretário da escola Everaldo, ocorreu em Outubro de 2008, poucos meses depois que Ana Claudia havia sido nomeada para ser diretora da mesma escola. No primeiro dia que cheguei, Ana Claudia estava ausente, havia saído para resolver algum problema relacionado com a escola. Na ocasião fui recebido pela professora Heloisa Holanda, que muito gentilmente pediu-me para aguardar a diretora retornar.
Depois de algum tempo, Ana Claudia retornou para a escola e de quebra conheceu seu novo Secretário. O que mais me recordo deste meu primeiro encontro com a Claudia foi quando ela me questionou se eu havia tido experiências anteriores como Secretário ou se eu já havia trabalhado em Secretaria Escolar, ou coisas do gênero. Eu, naquele momento bastante nervoso e querendo impressionar profissionalmente, confesso que contei uma mentira parcial, pois, respondi a ela que não havia sido Secretário Escolar, mas, menti, quando disse, que eu já havia trabalhado em Secretaria de escola. Não sei se ela percebeu naquele momento que eu estava mentindo, talvez, ela tivesse atestado a minha mentira na primeira ou segunda semana de trabalho, quando eu não demonstrara aquilo que havia dito, ou seja, pela minha não tão “excelente” atuação à frente da Secretaria da escola. Acredito, porém, que isto não importava muito para ela, pois, como eu, Claudia também era “caloura” na escola, e de certa forma presumo que ela também não estava muito segura de sua posição apesar de já ter tido ocupado a direção de outra escola (Escola São Bento), pois o Everaldo se diferenciava substancialmente desta escola que Ana Claudia havia dirigido anteriormente, pelo menos em comparação em termos da proporção de alunos e servidores. A escola Everaldo, de fato, era numericamente maior neste aspecto.
Como já mencionei não vou discutir aqui, especificamente, questões relacionadas às minhas experiências profissionais na escola Everaldo Vasconcelos, muito menos dos demais funcionários, e principalmente da ex-diretora Ana Claudia, que é o meu foco nesta singela homenagem textual.
Foi aproximadamente três anos de convivência e para demonstrar a solidez desta minha amizade com a Claudia, quero evocar um trecho que considero especial quando se trata de amizade, que é o trecho da música do cantor Milton Nascimento, que tem como título Canção da América: “amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito, dentro do coração”. Neste sentido, quero fazer uma consideração sobre amizade. A amizade é considerada por muitos como um fenômeno fundamental em nossas vidas, apesar de muitas pessoas suspeitarem do seu conteúdo, da sua intenção, dos diferentes significados que esta possui.
Há uma diferença crucial em se relacionar com pessoas: ou conhecemos as pessoas e nos tornamos amiga delas ou simplesmente conhecemos pessoas e nos relacionamos normalmente com elas. Muitas vezes, aliás, queremos até distancia de pessoas que não fazem nenhum sentido para nós ou como diz Renato Russo: “tem gente que está do mesmo lado que você, mas deveria está do lado de lá, tem gente que machuca os outros, tem gente que não sabe amar”.
Quantas pessoas por esta vida afora que conhecemos quase que diariamente, mas que se afastam de nossa presença apesar de muitas vezes estarem próximas de nós fisicamente? Do mesmo lado? Quantas pessoas convivem com você, mas que são simplesmente pessoas que você conhece?
Amigos não são apenas para as ditas “horas difíceis”. Amigos não são aqueles que olham para você e dizem simplesmente: “amigo”, “vá em frente”, “pense positivo”. Amigo de verdade é aquele que vai com você, que pensa com você, mesmo que divergindo, mas que sabe aceitar os seus posicionamentos respeitosamente. Amigo é aquele que consegue estabelecer com você um processo de reciprocidade que acaba sendo selado com a confiança. Amigos, muitas vezes se “ferem” em função de você, só para vê-lo feliz. Quantas amizades dessa natureza há por ai? Talvez seja por isso, que a maioria das pessoas, quando questionadas sobre aspectos relacionados à amizade, diz ter poucos amigos. Isto indica que as pessoas estão se referindo justamente a falta da consolidação dos princípios da amizade.
Diante disto que expus estou na posição de dizer que você Ana Claudia representou (e representa) para mim uma pessoa que conheci e que me tornei amigo. Sentirei imensas saudades da sua companhia, pois aprendi muito com você, aliás, as pessoas sempre aprendem umas com as outras, já dizia Paulo Freire. Uma pessoa nunca passa em branco na vida de uma outra. Seja de uma forma positiva ou negativa, as pessoas sempre estarão a passar pela vida das outras, muitas vezes deixando marcas que perduram por muito tempo. A marca que você deixou em mim, Ana Claudia, é a marca da amizade positiva e que sempre rememorarei com muito carinho.
No que diz respeito ao seu desligamento da direção, avalie a sua passagem pela escola não pela avaliação que as pessoas fazem ou fizeram de você. Muitas vezes, as pessoas formulam opiniões, equivocadas, tanto intencionalmente, quanto ingenuamente, diga-se de passagem. Por isso, avalie sua gestão, por aquilo que você pôde realizar de melhor, por aquilo que você realizou dentro de seus próprios limites. Gestores escolares são diferentes uns dos outros, mas todos têm ou deveriam ter em comum o objetivo maior da educação que é o de promover significativamente a aprendizagem. Comparar gestores é cair numa temática vazia e preconceituosa, que só serve para desprestigiar o que cada um pode oferecer de melhor para a educação. A vida é feita de avanços e retrocessos e muitas vezes retroceder pode representar um grande avanço em nossas vidas, não se esqueça disso.
Gostaria de agradecer pela sua paciência em muitos momentos turbulentos na escola, principalmente quando envolvia o trabalho da Secretaria Escolar. Quantas vezes eu deixava de cumprir os prazos estabelecidos, principalmente, aqueles relacionados com a expedição de documentos para alunos e você reconhecia que muitas vezes este fato estava diretamente relacionado à imensa demanda que nós tínhamos na escola.
Quero também, em nome dos servidores, muitos com os quais você cultivou verdadeiras amizades e sei que também muitos vão sentir saudades de você, agradecer pelos momentos de socialização tanto no nível profissional quanto no da descontração quando realizávamos os nossos projetos, você era pura animação em pessoa e, em último lugar, mas não menos importante, agradecer por você ter enfrentado o desafio de conduzir uma escola, como é uma escola do porte do Everaldo. Sabemos que a educação em nosso país é construída com projetos a longo prazo e na maioria das vezes, com muitas dificuldades. E aqui no nosso estado do Amapá, em especial no município de Santana de que somos moradores, este fato não é muito diferente.
Para concluir, desejo saúde, sucesso e felicidades para você e sua família e que Deus continue te abençoando abundantemente a cada dia. No mais, sentirei muitas saudades de você, enquanto eu estiver por aqui pela escola Everaldo, pois ainda sinto um “cheiro” de Claudia no “ar”, e não se esqueça que “amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito, dentro do coração”.
* Secretário Escolar da Escola Everaldo/ Acadêmico de Ciencias Sociais na UNIFAP
Um comentário:
Apesar de ter demorado muito tempo para me aproximar da Ana Cláudia, confesso que me surpeendi ao descobrir como ela é especial. É uma pessoa esfusiante, que se joga de cabeça em tudo que faz e desperta admiradores por onde passa. Eu me tornei uma delas. Saudades de você Ana Cláudia.
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