Por Cleidson Arruda Araújo |
Recentemente participei de uma reunião onde a temática consistia em informar sobre a organização e realização da prova aos candidatos que iriam participar do processo seletivo da Universidade Federal do Amapá, bem como informações a respeito da própria universidade e a difícil decisão de se escolher um curso de graduação por parte dos alunos.
A novidade reside no fato de que há pouco mais de seis anos quando sair da escola pública secundarista e prestei meu primeiro vestibular para a mesma universidade para o ano de 2003 tal procedimento inexistia, ou melhor, não se aplicava nos moldes que conhecemos hoje, ou seja, nas informações que antecedem a realização da prova. Só fui tomar conhecimento da universidade e do curso de Ciências Sociais, quando do meu ingresso no ano de 2004. Talvez esta falta de informação na época quando realizei meu primeiro vestibular no ano de 2003 tivesse me levado a optar pelo o curso de Matemática para o qual “felizmente” não fui aprovado.
Sempre em tempos de realização de processos seletivos para o ingresso em universidades sejam elas públicas ou privadas é comum se ouvir dos vestibulandos e mesmos dos seus familiares aquela sentença segundo a qual os processos de aquisição de conhecimentos e desenvolvimento de habilidades se dão de forma inata. O pressuposto desta fórmula é justamente situar a pessoa como detentora de capacidades interiores, que se traz desde o nascimento, aquilo que tradicionalmente se convencionou chamar de “vocação”. Não irei atestar a validade desse postulado, no entanto, tenho percebido nas minhas relações profissionais e acadêmicas que há pessoas que desenvolverem determinadas atividades mais habilmente que outras.
Quando ingressei na Universidade Federal do Amapá no curso de Ciências Sociais pela primeira vez no ano de 2004, relembro que na nossa primeira aula da disciplina de Língua Portuguesa e Comunicação (LPC), nossa então professora solicitou que expuséssemos individualmente os motivos que nos levaram a escolha do curso. Eu e meus colegas ainda um pouco ansiosos e nervosos, mas muito contentes e com boas expectativas não muito pela escolha do curso, mas simplesmente por estarmos na universidade. Este fato me faz lembrar da fala de um dos colegas que dizia que “o que importava a partir de agora é que somos todos universitários e a escolha do curso e nossas colocações no processo seletivo (Vestibular) não importam muito”.
Na primeira semana do curso nos nossos bate-papos pós-sala, ouvia com freqüência os colegas comentarem sobre o processo seletivo ao qual fomos aprovados e suas classificações. Aqui, percebi o quanto atribuíam importância a este aspecto e ponderavam que aqueles que tiravam as primeiras posições eram sem dúvida os mais “inteligentes”. Eu mesmo fui alvo desses comentários, quando da aprovação em primeiro lugar no curso de Ciências Sociais da Unifap para o ano de 2009.
Mas voltemos aos motivos questionados pela professora. Eles se alternavam nos âmbitos familiares, econômicos, religiosos, de inspiração de movimentos estudantis e político-partidários, etc. Não vou aqui me deter nos detalhes dessas respostas, mas o que vale ressaltar é fato de terem em comum um pessimismo em relação à sociedade como todo, mas viam com otimismo na universidade a possibilidade de estarem em um espaço de apreensão de saberes aliada a “elucidação” de ideologias e meus colegas concebiam o termo ideologia (muitos equivocadamente) no sentido marxista do termo para serem agentes de transformação social.
Decorridos três semestres do curso comecei a perceber que meus colegas ou pelo menos aqueles que se propunham a tal transformação acabaram por abandonar suas proposições iniciais. Este fato se deveu, em parte, ao processo de “disciplina” ao qual fomos submetidos ao longo deste período, pois éramos orientados pelos professores a não incorremos em práticas irrefletidas e que seria muito pernicioso para um cientista social considerar um autor ou autores ou mesmo ideologias como modelos a serem seguidos. Também muitos dos colegas foram aprovados em outros vestibulares e/ou concursos públicos e acabaram por abandonar ou mesmo solicitaram o trancamento do curso.
Escolhi o curso de Ciências Sociais quando do ingresso no ano de 2004 não porque considerava que tinha vocação para tal, mas na verdade fui me apercebendo que tinha certo gosto pelo estudo de sociedades. Muitos de meus professores do Ensino Médio recomendavam que eu prestasse vestibular para a área de Ciências Humanas, pois atestavam que eu tinha aptidão para tal, no entanto, como já disse optei pelo curso de Matemática. Posteriormente, com a ajuda de colegas e, muitos deles já estavam na universidade cheguei a conclusão que dos cursos oferecidos pela Universidadede Federal do Amapá o de Ciências Sociais era o que mais se aproximava dos meus interesses. Minha escolha foi fundamentalmente acadêmica, no sentido de aprendizado dessa ciência. Quando digo no sentido de aprendizado dessa ciência é porque me oponho radicalmente aquela idéia de que se está em uma universidade apenas para se “tirar” o diploma.
Nos fins do ano de 2005 fui aprovado no concurso público para professor da rede estadual das séries iniciais, fui destinado a trabalhar em outro município do estado e, por conta disso, no início do primeiro semestre do ano de 2006, tive que me ausentar da universidade. Por não conseguir retornar a universidade no prazo estabelecido pelo Conselho Universitário da Universidade Federal do Amapá-CONSU/UNIFAP, acabei perdendo a vaga.
A universidade sempre esteve nos meus planos, não tinha dúvidas quanto a carreira que queria seguir, em nenhum momento no intervalo que estive ausente da universidade, pensei que se voltasse a ela escolheria outro curso. Não desanimei quando perdi minha vaga no início do ano de 2008, novamente prestei vestibular e fui aprovado para o ano de 2009. Como tinha cursado praticamente três semestres na turma de 2004 entrei com processo de contagem de créditos de disciplinas.
Quando do ingresso na universidade no ano de 2009, já tinha, mesmo que de forma bastante rudimentar alguns fundamentos da estrutura e funcionamento da instituição bem como a respeito do curso de Ciências Sociais, pois como já foi dito, já havia iniciado o mesmo curso no ano de 2004. No primeiro semestre de 2009, não tive muita dificuldade, haja vista que as disciplinas que são ofertadas neste primeiro semestre, são da base introdutória. Entretanto, como não contávamos com professores disponíveis para as disciplinas introdutórias, a Coordenação do nosso curso, achou por bem nos oferecer disciplinas onde só teríamos que vê-las, de acordo com nossa matriz curricular decorrido dois ou três semestres. Mas a turma aceitou a medida sem muitos problemas, pois mal sabiam sobre a disposição da grade disciplinar do curso. Este fato só foi esclarecido, quase que exclusivamente pelos alunos de outras turmas que “pagavam” disciplinas em forma de dependência. Havia também, alunos que se assemelhavam ao meu caso e que neste sentido esclareciam muitos pontos a respeito do curso e da universidade.
Os “rituais” a que somos submetidos na academia, nos fazem a todo o momento repensarmos em nossos sistemas de valores. Nossos professores estão constantemente nos orientando para que possamos considerar a universidade como espaço para a produção e debate de conhecimentos no sentido sempre de perseguir “desafios intelectuais”. Na universidade somos cientistas ou pelo menos candidatos a cientistas e como tal devemos nos comportar. A “velha” sentença “ao Cientista Social é vedado julgamento de valor”, expressava a preocupação da maioria de nossos professores, não só a respeito de produzimos ciência, mas que possamos utilizar tal postulado no relacionamento com o outro, muitas vezes tão diferentes de nós. Neste sentido, sem medo de cometer um equívoco conceitual digo que sem dúvida que as Ciências Sociais têm me mobilizado na busca da construção de uma humanidade própria.
Apesar de estarmos ainda no primeiro ano do curso, vejo a necessidade de me dedicar ainda mais, pois o sucesso do empreendimento acadêmico só se realiza quando nos entregamos a ele. Metodologicamente, vejo que a disciplina para a organização de nosso pensamento se deve realizar circunstancialmente com o incremento de se fazê-lo de maneira responsável e respeitosa, não nos eximindo de cumprir as práticas acadêmicas as quais nos propomos e as que nos são imputadas pelos professores e pela universidade. Tenho me esforçado neste sentido e acredito que cumpri-las a contento, é de importância fundamental.
Finalizando, vejo a universidade como um espaço de exercício de “leitura de mundo” no sentido freireano do termo, de produção de conhecimento e sua aplicabilidade-apesar de muitas vezes a ciência se ter aplicado de forma equivocada e omissa em nossa sociedade. Se nos pretendemos a tal devemos agarra esta oportunidade como forma de nos fazermos mais humanos e humanizadores. A ciência a qual nos propomos produzir deve substancialmente contribuir para o entendimento de nossas sociedades.
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